sexta-feira, 11 de dezembro de 2009

Ernesto, o Transexual




Ernesto trabalhava nas obras. Acordava todos os dias às 6h30 da manhã com o barulho dos seus próprios peidos. Levantava-se meio azambuado, dava um arroto de 6 segundos e meio, metia as manápulas dentro da cueca para ver se o abono de família ainda lá estava, não fosse a patroa ter-lho cortado tal foi a bebedeira com que chegou a casa na noite anterior, dava uma palmada nas nalgas para tirar a dormência e seguia para a casa de banho. Passava um bocado de agua no cabelo seboso só para dar aquela que tomou banho, descarrega meio frasco de desodorizante do LIDL e apara a bigodaça com um corta-unhas ferrugento que estava junto ao piaçaba. Era assim todos os dias, com excepção do domingo, que era dia de folga, ou como ele dizia, dia de ir à catedral ver o clube do Ensébio. Era o maior no obral. Campeão à 7 prédios de "quem vir mais gajas boas a passar debaixo do andaime  ganha" e especialista em dizer asneiras, asneiradas e palavrões, sendo o recordista da obra com 89 palavrões num minuto. Chegava do trabalho, estacionava a sua ford transit de mil nove e oitenta e dois (1982 ...), dava dois ou três peidinhos em jeito de foguete para anunciar a sua chegada e prontamente se sentava na mesa à espera do jantar. Quando era feijoada ou cozido à portuguesa, a patroa já sabia que o melhor era levar a máscara de oxigénio e os óculos de mergulhador para a mesa, tal era o estado dos intestinos do bicho. Depois de palitar as teclas de piano que ainda restavam, mascava uma chiclete para não ter de ir lá acima lavar os dentes, pois ver os resumos da bola é sagrado (mesmo da 3ª divisão amadora de iniciados do Uzbequistão). Chega a hora de dormir. Ernesto não podia dormir sem dar o pírafo da ordem na patroa, nem que para isso ele tivesse de lhe prometer que no dia a seguir a ia levar um sítio chiquérrimo :
- Ai Ernesto , que restaurante tão fino !! só gente bem vestida !! vamos entrar?
- F**@-**, filha da p**@ tá armada em fina oh car@*** !! Eu disse que te ia trazer a um sítio fino, não disse que iamos entrar...
Era assim a vida de Ernesto. Era. Digo 'era', porque já não é. Desde que viu um programa qualquer no Discovery Channel, nunca mais foi o mesmo. A gota de agua foi quando os seus colegas o viram a pintar coraçõezinhos em tijolos e a escrever "I lave íu"(o inglês não era o seu forte) nos baldes de cimento. Ernesto agora chama-se Bernardette com dois "t's", é loira com extensões, unhas de gel maiores que os dedos e sapato de salto alto. Trabalha em part-time no Boticário do Colombo e veste Hello Kitty da cabeça aos pés. Papa tudo o que é concerto do Ricky Martin e tem mais peluches no quarto que animais no Jardim Zoológico. Quem ficou radiante com a mudança foi a sua mulher, que agora, para alem de ter uma amiga com quem ver os programas da Oprah, consegue respirar o ar da sua casa sem precisar de usar máscara. 
Dizem os entendidos que transexualidade é uma condição considerada como um tipo de transtorno de identidade do género ; acho estranho, até porque eu quando estou transtornado com alguma coisa não saio por aí a cortar apendices do meu corpo, normalmente a coisa resolve-se com dois ou três gritos e um ou dois pontapés numa porta. Acho estranho. Uma lição eu aprendi com a história do Ernesto : nunca ver o Discovery Channel, passam lá uns programas estranhos comó car**** !!!

2 comentários:

  1. Bem grande Ernesto,ou será Bernardett???,lol que transformação radical, mas se foi para bem da senhora é muito bom pois prefiro a Bernardett ao Ernesto que homem asqueroso, nem um primitivo era tão porco, bem comecei a ler o post a beber o meu cafézinho da manhã e quase que parei, pois o homem era mesmo nojento,lol, mas consegui resistir e gostei muito do final que o senhor, agora senhora senhora teve!!!!;)

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  2. Não me digas que vais começar a ver o discovery tambem. . .

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