Filhos ?! Pode ser . .

Surgiu mais uma moda nos dias que correm, a moda de ter filhos. Ao que parece, ter filhos está na moda, é giro, é cool, quem tem filhos é um bacano, quem não tem é um zé ninguem. Eu como não gosto de andar fora de moda, resolvi acompanhar a tendência e tambem ter filhos. A primeira coisa a fazer foi olear bem a pistola para evitar disparar polvora seca ; para tal, todos os dias quando chegava do trabalho e antes de contar as moedas que as pessoas me deram por lhes arrumar os carros, eu treinava sozinho. Na casa de banho, na sala, no quarto, umas quantas vezes na arrecadação e até uma vez no verão, quando fez mais calor, na varanda. Quando achei que já estava pronto, virei-me para a minha senhora, e disse : Bora lá . E fomos mesmo.  9 meses depois, o resultado estava à vista ; um belo exemplar, um pouco sujo é verdade, mas nada que umas boas mangueiradas no focinho não resolvam. Dizem que o miudo é parecido comigo, o que é mau sinal, pois ele é feio como o caraças, todo enrugado , mais parece um cão da 5 à Sec que outra coisa. Chegou a fase de tratar da criança.  Para grande espanto meu, não trazia nenhum livrinho de instruções para nos ajudar, provavelmente se eu fosse sueco o miudo tinha nascido todo desmontado, juntamente com o tal livrinho de instruções para o montar e levar para casa. O tempo passa e o ser pequenino vai crescendo. Até já fala o meu filho ! Digo "meu" filho partindo do príncipio que ele é mesmo meu, já que não tenciono fazer o teste do ADN. Era só o que me faltava daqui a uns anos, eu vir a saber que afinal aquele gajo que me fez passar noites sem dormir, dias sem comer, me mijou e esguichou cócó (nem sabia que era possível) inúmeras vezes para a cara, afinal é filho do carteiro. Uma coisa é ele enganar-se e pôr cartas que não são minhas na minha caixa do correio, isso ainda vá que não vá,  outra coisa é ele pôr coisas dele em sítios que supostamente são meus. Sinceramente nunca pensei que um ser tão pequeno sobrevivesse mais do que 20 minutos nas minhas mãos. Quantas vezes é que eu já lavei os dentes no bidé e mijei no lavabo ? Agora imaginem o meu medo quando fosse a hora de dar o biberon ao pobre coitado, cheio de fome e que confia em mim. Obviamente que deu buraco várias vezes, principalmente a meio da noite, quando um gajo está mesmo cheio de sono e tinha acabado de adormecer, e é então que ouvimos um gemido que não percebemos se é o gato ou é o bébé - arriscamos no gato e ficamos a dormir mais um pouco, pelo menos até ao próximo grito - Desde beber Coca-Cola em vez de leite, ao molho do lombo assado e a uma mão cheia de agrafes e pioneses, o miudo já experimentou de tudo. Como é obvio, rapidamente me tornei um habitué  dos hospitais de lisboa. Nem tudo são coisas más, hoje em dia posso dizer que o Sr. Carvalho, o porteiro do parque de estacionamento,  é um dos meus melhores amigos, arranja-me sempre um lugar ao pé da porta de entrada para eu não ter de andar muito. Actualmente fiz um upgrade e tripliquei o meu stock de filhos, tendo agora 3 exemplares. Com os subsídios do estado, deixei de trabalhar. Os míudos passam fome e andam nús, mas pelo menos as minhas amigas brasileiras do bar de strip que costumo frequentar não se queixam. Basicamente o que fiz foi pensar na minha velhice ; em vez de fazer os meus descontos para o estado e desta forma pagar a velhice do Socrates, resolvi ter uma catrefada de filhos e rezar para que eles saibam jogar à bola. Achei que uma bola no Natal, na Pascoa e nos aniversários, juntamente com autógrafos dos maiores craques, resolviam a coisa, mas estava enganado.  Mais valia ter dado tijolos e cimento já que 2 deles trabalham nas obras e o outro de tanto eu dizer que ele fazia 'miau' de noite, deu em veterinário . Olha que sorte a minha ! Cheira-me que vou acabar num roupão de xadrez e de penico na mão a ver o Goucha  e a esperar ansiosamente que me venham espetar com o clíster pelas nadegas adentro, que por sinal, é o momento mais emocionante do dia . . .